Tinha como principais objetivos: percorrer grande parte do território brasileiro (principalmente interior), incentivando a população a se rebelar contra o governo e as elites agrárias. O objetivo era derrubar o governo do presidente Arthur Bernardes (1922 a 1926); implantar o voto secreto e o ensino fundamental obrigatório no Brasil e acabar com a miséria e a injustiça social no Brasil. A Coluna Prestes formada, em sua maioria, por dissidentes do Exército e comandada pelo tenente Luiz Carlos Prestes, pretendia derrubar o poder constituído, arregimentando seguidores em todas as regiões brasileiras, com conflitos registrados nos Estados de Pernambuco, Bahia, Piauí, Ceará, Maranhão, entre outros. O descaso da Administração do Presidente Washington Luiz (1926 a 1930) para com os nordestinos era a bandeira de luta dos revoltosos.
O grupo rebelde utilizava-se de forças para conseguir a
sua manutenção. Tomava alimento e outros pertences das comunidades, notadamente
onde não encontrava resistência policial, apregoando tal atitude como um
direito de sobrevivência. Esse comportamento revoltava os saqueados e provocava
o abandono das casas de famílias incluídas na rota dos seguidores Prestistas,
como passaram a ser conhecidos.
Na Paraíba a penetração do grupo revolucionário foi pacifica a exceção de sua chegada em Piancó, que ocorreu no dia 09 de fevereiro de 1926. Antes, porém, quando do acampamento em Coremas, coube ao Capitão Pires fazer o reconhecimento da próxima cidade que, de acordo com informações previas não colocaria obstáculos à passagem da marcha. Acabou sendo surpreendido em um piquete coordenado pelo Sargento Arruda, alvejado com tiros de rifles, saindo ferido e presenciado a morte de seu cavalo. Esse fato provocou a ira do Q. G. acampado que de pronto decidiu por uma varredura completa, sem piedade contra a localidade em evidencia. Piancó dispunha apenas de 12 praças um cabo, um sargento, 30 paisanos e 2 oficiais (Manuel Marinho e Antônio Benicio). O governador do Estado João Suassuna, solicitou ao deputado Padre Aristides, chefe político do município, que convocasse a população e se unisse às forças policias, na defesa do lugar.
Na Paraíba a penetração do grupo revolucionário foi pacifica a exceção de sua chegada em Piancó, que ocorreu no dia 09 de fevereiro de 1926. Antes, porém, quando do acampamento em Coremas, coube ao Capitão Pires fazer o reconhecimento da próxima cidade que, de acordo com informações previas não colocaria obstáculos à passagem da marcha. Acabou sendo surpreendido em um piquete coordenado pelo Sargento Arruda, alvejado com tiros de rifles, saindo ferido e presenciado a morte de seu cavalo. Esse fato provocou a ira do Q. G. acampado que de pronto decidiu por uma varredura completa, sem piedade contra a localidade em evidencia. Piancó dispunha apenas de 12 praças um cabo, um sargento, 30 paisanos e 2 oficiais (Manuel Marinho e Antônio Benicio). O governador do Estado João Suassuna, solicitou ao deputado Padre Aristides, chefe político do município, que convocasse a população e se unisse às forças policias, na defesa do lugar.
Em telegrama enviado ao
parlamentar, o Chefe do Executivo Estadual informou que o grupo dos rebeldes
era reduzido, faminto, sem munição suficiente e que um grande reforço policial
estava sendo encaminhado ao Vale para se unir a resistência. Um dia antes do
ataque o Padre dividiu as forças disponíveis em quatro grupos instalados em
pontos estratégicos. Sobre o clima vivido na referida data, o historiador João
Francisco, faz a seguinte citação: “Era anoitecer do dia 08 de fevereiro de
1926 em Piancó”. Quase cessando o movimento de pessoas nas ruas da Vila. Duvida
e apreensão absoluta pairava na mente de todos. Ao longe os cães latiam como
que estivessem anunciando a chegada de uma pessoa estranha ou a partida de seu
dono. Na Sala Principal da casa, residência do Padre e Família, os mosquitos
circulavam as lâmpadas que iluminava o ambiente tenso.
Sentados em circulo, o
prefeito João Lacerda, seu filho Osvaldo Lacerda, Manoel Clementino (escrivão
do então distrito do Aguiar), Hostilio Gambarra (distribuidor em juízo), Pedro
Inácio Liberalino, José Ferreira e o Padre Aristides Ferreira da Cruz. Falavam-se pouco, sempre conversas entrecortadas, nunca um diálogo demorado.
Entra na sala uma senhora, de aspecto servil e em silencio, distribui café e
chá aos presentes. Era dona Quita senhora do Padre e mãe dos seus quatros
filhos então adolescentes: Jorge, Sebastião, Aristides e Joanita. Novamente a
sós, o silencio imperava. Aqui, acolá uma frase curta. Todos sabiam do risco de
continuar na cidade. O mais sensato seria procurar sair em busca de proteção,
mas longe de tentar convencer o padre dessa ideia. Logo um alvoroço, uma
agitação e entra alguém informando a chegada do cachorro de estimação do senhor
José Maria, irmão de D. Quita, e que residia em Coremas. Todos quiseram saber
quem o cachorro acompanha. O temor aumentou quando se soube que este havia
aparecido sozinho. Alguém devia estar chegando do vizinho município, pôr onde a
coluna de revoltosos havia passado naquela manha. As horas avançavam feitas
chamas. Logo Chegaria o momento da despedida, das recomendações e do adeus.
Estava já acertado. Dona Quita e os filhos e os empregados deixariam a casa
logo mais, permanecerá o Padre mais alguns amigos.
Prefeito João Lacerda |
Osvaldo Lacerda |
Na manhã seguinte, outros
que também resistiram, estavam sendo aguardados. Em meio à agitação gerada em
torno da chegada do cachorro, surge a porta, um jovem, apressado, e pede a
presença do padre. Uma vez atendido, o mensageiro se identificou e entregou-lhe
um papel meio amassado e úmido de suor, com um escrito que dizia: “Não tente
resistir, é uma ideia absurda”. Passa de mil homens com armamento a disposição
alguns até com aparente falta de disciplina. “Desde a manha de hoje Coremas foi
invadida por um exercito de guerrilheiros desalmados, cruéis”. A sala se encheu
rapidamente, todos apreensivos fitavam o padre, no seu rosto um a nítida
expressão de tristeza. Ele sabia todos mais uma vez tentariam convence-lo a
deixar a cidade, agora com argumento mais sensatos. A aflição do padre poderia
ser notada também no semblante desolado de D. Quita e dos filhos. Todos temiam
o pior.
O Padre Aristides estava dominado por uma sensação de impotência. A
ideia de abandonar a cidade não era nada de honroso para um chefe político da
sua envergadura. Dúvida cruel. Enquanto o seu orgulho de homem público e de
defensor do povo e da cidade, forçavam-no a ficar, uma porção de medo de perder
Quita e os filhos, levava-o na possibilidade de fugir. Os amigos foram
unânimes.
O Padre Aristides devia sair com a família, deixasse um grupo de homens de
confiança protegendo a cidade. E instantes depois o Padre consentiu em
acompanhar os seus familiares a uma fazenda distante, até os revoltosos saírem
de Piancó. O temor da separação deu lugar à agitação da arrumação dos objetos
que levariam na viagem. Já havia alegria entre os presentes na casa grande. As
carroças e os animais que seriam usados no transporte da família foram
conduzidos ate a porta da frente. Um levava, outro trazia, outro escutava, mas,
o Padre continuava pensativo, distante dali, alheio ao que se falava na vasta
sala, pelas janelas fronteiriças seu olhar vagueava mundo a fora. O tigre
acuado em sua própria morada. Recordou o episódio marcante de 1922, fazia
quatro anos, teve que fugir e buscar junto ao Presidente Epitácio Pessoa, seu
chefe, proteção para voltar a assumir o poder do município, foi a mais cruenta
e desastrosa contenda com a família Leite.
Padre Aristides |
Agora teria que fugir de novo. E o
telegrama do governador João Suassuna. Era a oportunidade ideal de conquistar a
simpatia do governante, que por sua vez demostrava, mas aproximação com os seus
inimigos políticos. Não podia também decepcionar a população local, deixando
que os seus bens fossem saqueados e destruídos. Há instantes da partida votou
atrás e mudou de ideia. Bateu o pé e não saiu além da calçada para despedir-se
da família. Era esperada uma reação de descontentamento dos amigos o que se deu
certamente, mas não convenceu e o Padre ficou.
O inevitável cerco aconteceu por volta das 08h00min horas da manha. Mais de mil homens revoltosos, conduzidos em cavalos recebiam a ordem para avançar contra todos os legalistas. Dois deles bem trajados e armados partem na frente e são recebidos as bala pelo Sargento Manuel Arruda, que em um tiro certeiro faz um deles tombar sem vida. Estava desencadeado o maior confronto de todos os tempos, que minutos após já computavam 56 feridos de ambos os lados.
O inevitável cerco aconteceu por volta das 08h00min horas da manha. Mais de mil homens revoltosos, conduzidos em cavalos recebiam a ordem para avançar contra todos os legalistas. Dois deles bem trajados e armados partem na frente e são recebidos as bala pelo Sargento Manuel Arruda, que em um tiro certeiro faz um deles tombar sem vida. Estava desencadeado o maior confronto de todos os tempos, que minutos após já computavam 56 feridos de ambos os lados.
A desigualdade era eminente e a ação
da fuzilaria que mais parecia um rolo compressor conseguiu espantar os que
ainda resistiam na cidade. Completado o piquete as famílias haviam fugido e
grandes partes dos voluntários da luta, desertado. Somente os que ainda se
encontravam na casa do Padre Aristides resistiam enquanto o cerco aumentava em
proporções assustadoras, chegando a quase cem por um. O sacerdote comandava a
operação quase perdida disposta a queimar o último dos seus cartuchos. Ao lado
de doze companheiros fieis empunhava uma pistola na mão direita, vestido de
branco. Era mais ou menos 15h00min horas quando as esperanças começavam a dar
sinais de fragilidade. Nesse momento a tentativa de atear fogo na residência
utilizando gasolina era abortada com a morte do Sargento Laudelino, atingido
com um abala na cabeça. Era também o instante de encarar a falta de munição
para enfrentar os foras da lei. Duas bombas de gás asfixiante foram lançadas no
interior da casa, provocando desmaio em Ana Maria de Lima a senhora convidado
pelo Padre para fazer a comida do povo, que a essas alturas já era tomado pó
rumo a enorme dor de cabeça. A invasão do recinto já estava consolidada com
centenas de rebeldes arrombando as portas e janelas, se precipitando casa
adentra e cumprindo a ordem de pegar a unhas o líder e seus companheiros.
Começava então a “Via Crucis” contra o prefeito João Lacerda e seu filho
Osvaldo Lacerda; o funcionário Público Manuel Clementino e seu filho Antônio;
Rufino Soares, Joaquim Ferreira, José Lourenço, Antônio Leopoldo, Juvino
Raimundo, Hostilio Túlio Gambarra, Vicente Mororó e o Padre e deputado
Aristides que pedia para todos garantia de vida, o que só foi concordado até a entrega
das armas pelo grupo solicitado. Os dominados são conduzidos para perto da
cidade, a uma distancia de duzentos metros onde existia um barreiro, escolhido
como o palco da matança. A Sequência do sacrifício é anunciada para as centenas
de Prestistas que compunha o enorme cerco. Primeiro os mais humildes, depois os
comerciantes, em seguida o prefeito e pôr ultimo o Padre. Todos foram sangrados
e os seus corpos jogados no pequeno depósito natural de água. Padre Aristides,
no entanto, antes do golpe final na goela foi esmurrado no rosto, apunhalado
nas costas, no peito, em partes intimas e em pleno martírio conseguiu reafirmar
a sua crença de religioso, dizendo-se um apostolo de Deus.
Em 1926, barreiro de lama, agora Monumento aos Mártires de Piancó |
O Poder destruidor
da Coluna Prestes não poupou o patrimônio de Piancó. As casas foram saqueadas,
os prédios públicos destruídos e incendiados com a utilização de milho seco do
senhor Paizinho Azevedo, moveis do Conselho Municipal e papeis da agencia dos
correios. O comercio passou por um completo processo de destruição. A população
conseguiu salvar apenas a roupa do corpo. Os prejuízos foram calculados em mais
de dois mil contos.
Dona Antônia César foi a única a mulher que ficou em Piancó
no dia da chacina. “Durante depoimento contou que após a tragédia se dirigiu ao
local para ver o padre morto.” Tinha um buraco medonho na goela. Metade do
corpo dentro d’água metade de fora. Quando eu reparava no corpo dele, um
“cangaceiro arrebatou o candeeiro da mão e derramou gás na cara do padre”.
Queria queimar o pobrezinho. Eu tomei o candeeiro das mãos dele. Não deixei que
tocassem fogo. Pedro Inácio foi um dos sobreviventes da chacina. Estava dentro
da casa do Padre quando começou o tiroteio e viu a morte no caminho. Acabou
sendo o único sobrevivente pela sorte de ter conseguido fugir sem ser notado.
Foi ele o responsável pelo sepultamento dos mortos no dia seguinte. Devido ao
alto grau de destruição da cidade promovido pelos revoltosos, o processo de
reconstrução foi difícil e demorado.
Advindo do Livro Os Mártires de Piancó, fotos do Google e de arquivos pessoais por Hosmá Passos da Silva Filho
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